Estava com saudades da neve. Quase esqueci como os destinos de inverno são um opção deliciosa de férias. Começa que a paisagem é sempre deslumbrante, uma combinação encantadora de montanhas nevadas e lagos, geralmente cercados de casinhas de madeira que convidam a entrar para se aquecer do frio. Sem falar na gastronomia. Frio pede calorias reforçadas por boas doses de comidinhas fumegantes, taças e mais taças de vinho para esquentar a alma e chocolates e sobremesas irresistíveis para comer sem pensar no amanhã.
Pois foi pensando nisso que decidimos passar alguns dias das nossas férias em Bariloche. Eu já conhecia, mas tinha muitos anos que havia estado por lá e já não lembrava de muita coisa. Zeca não tinha tido oportunidade ainda e conseguimos conquistar nossos amigos Liginha e Marcello, que toparam embarcar na aventura sem pensar duas vezes. Então, munidos de casacos, luvas e cachecóis, lá fomos nós para os confins da Patagônia, em plena Copa do Mundo.
Assistindo Brasil e Chile no Aeroparque de Buenos Aires, a caminho de Bariloche |
Algumas pessoas podem ter preconceito quando se fala em Bariloche - o destino de neve preferido dos brasileiros, onde praticamente não é preciso saber uma palavra de espanhol, e que geralmente na temporada de inverno é invadida por hordas de adolescentes agrupados em excursões sem fim. Mas fazendo as escolhas certas sobre onde ficar, onde comer e onde ir, é perfeitamente possível desfrutar com tranquilidade do lugar que é lindo e oferece opção para todos os gostos. Tendo como objetivo descansar, aproveitar a natureza, comer e beber bem, e curtir a neve, claro, conseguimos traçar nossos planos para uma semana perfeita!
Nosso hotel
Como queríamos descansar, escolhemos um hotel super romântico, na beira do lago, distante apenas dois quilômetros do centro. Essa é uma ótima opção para quem quer ficar longe da confusão. Nas margens do Nahuel Huapi existe uma infinidade de hotéis lindos, com vistas deslumbrantes. A cidade cresceu bastante ao longo da Avenida Exequiel Bustillo, que margeia o lago em direção aos principais pontos turísticos, como os Cerros, o Circuito Chico, etc... Distribuídos pela estrada, estão as melhores opções de hotéis e restaurantes do lugar.
Sol nascendo da janela do restaurante do nosso hotel |
Mas para isso, é preciso alugar um carro. Foi o que fizemos e não nos arrependemos, pois ficamos livres para fazer os passeios sem pressa, parando quando e onde quisemos.
Nosso possante!!!! |
Esse é Lobito, um amigo que fizemos no hotel |
Atrás de cada janela redonda tem uma banheira de hidro com vista espetacular para o lago! |
Que tal ver o por do sol daqui? |
Devidamente instalados, partimos para explorar as belezas de San Carlos de Bariloche.
Centro da cidade
A cidade é bem pequena e em pouco tempo você já domina as principais ruas. Paramos o carro e fomos explorar o comércio a pé. Os principais atratativos são as lojas de artesanato, de roupas de frio, artigos de couro e chocolate, muito chocolate. Bariloche é bem famosa pela produção local do produto. As lojas são lindas e o chocolate de fato é bem gostoso. Aproveitamos para comprar lembrancinhas super graciosas. As mais famosas são a Mamuschka (em homenagem à bonequina russa que é símbolo da loja) - invista nas lindas latinhas com chocolates diversos, e a Rapa Nui, que para mim é a melhor, pois tem uma cafeteria muito legal no fundo e além do chocolate, também vende patês e geléias que você pode levar para fazer um piquenique no hotel ou para degustar na volta vendo as fotos da viagem.
Mamuschka da Calle Mitre |
Patês e geléias da Rapa Nui |
Piquenique de fiambres e quesos defumados. E vinho, é claro! |
É lá que ficam os famosos cães São Bernardo, explorados para tirar fotos com turistas. Fiquei com pena, pois achei os bichinhos meio tristonhos. Aliás, como tem cachorro em Bariloche. Em qualquer lugar onde você vai encontra um... ou vários...
Na avenida que beira o lago está a Igreja, que é bem bonitinha. Gostamos da vista, claro.
Também no centro, fomos conhecer o restaurante Família Weiss, um dos mais tradicionais do local. É meio turístico, mas vale a visita. A comida estava ótima e é muito bem servida (aliás, como em quase todos os restaurantes em que fomos), mas achamos o serviço meio lento, apesar da maioria das mesas estar vazia.
As tábuas de defumados e queijos estão em quase todos os menus da cidade |
Descobrimos a loja Patagônia, excelente lugar para comprar vinho, não apenas para consumir no hotel, mas também para levar para casa. Os preços são muito bons e o atendimento é de primeira. Javier, o simpático vendedor que nos atendeu, indicou rótulos com ótimo custo x benefício e ainda fez uma embalagem perfeita para viagem. Dá para trazer a caixinha reforçada como bagagem de bordo (http://www.patagoniavinos.com.ar/)
Circuito Chico
Esse é um dos passeios mais tradicionais para quem visita Bariloche. Um conselho que damos é fugir de guias e excursões prontas. Pegue seu possante alugado, arranje um mapinha e seja feliz. Não tem erro. É só ir seguindo as placas pela estrada, não precisa nem de GPS. Reserve uma tarde inteira e vá parando onde quiser, sem pressa. Estava um dia lindo, muito sol e um friozinho gostoso, combinação perfeita para nosso passeio.
Nossa primeira parada foi no Cerro Campanário. Pegamos o teleférico e lá fomos nós.
Alegria de criança |
Marcello e Liginha charlando para a foto! |
Lá do alto a vista é uma das panorâmicas mais belas da região.
Tiramos muitas fotos e rebatemos o frio com empanadas e cervejas patagônicas.
Um brinde à amizade |
Os cubanitos do Cerro Campanário são famosos!
Descemos o cerro para continuar nosso passeio.
Seguindo em frente, chegamos ao Llao Llao, o mais famoso hotel de Bariloche.
E também o mais caro - paga-se a módica quantia de U$ 620 pela diária. Mas eles foram hospitaleiros e nos deixaram entrar para conferir o luxo, tirar algumas fotos e ficar com água na boca, é claro...
Pausa para um romance... |
Lindo o saguão do hotel |
Bem pertinho do Llao Llao está o Puerto Pañuelo, de onde partem os barcos para os passeios no lago. Acabamos não tendo tempo para esse programa, mas é bem legal - reserve uma tarde inteira, pois o barco parte às 13h30 e só retornam às 18h30. E tem que ser em um dia lindo de sol!
Entramos pelo Parque Nahuel Huapi, passando por uma estradinha bucólica, cercada por árvores. No caminho, nos deparamos com essa placa...
Demos ré e fomos conferir... E não é que realmente tinha um lago literalmente escondido no mundo?
Só silêncio e paz de espírito |
Espelho d´água. Espetáculo da natureza |
Difícil decidir entre o nascer e o por do sol... |
Cerro Otto
Outro ponto bem conhecido de Bariloche é o Cerro Otto. É um local de entretenimento na neve, tem algumas opções para turma se divertir, como trineo (o famoso esqui bunda) e esqui de fundo. Sobe-se o teleférico fechadinho e chega-se no topo de onde pode-se desfrutar da vista e tirar fotos panorâmicas. Como estava um dia chuvoso e bem nublado, ficamos dentro das nuvens e não vimos nada.
Ainda bem que o teleférico era fechado, porque estava muuuuito frio... |
Encontramos essa excursão de estudantes que visitava o local. É padrão a galera estar com casacos iguais, você reconhece de longe... Fiquei com a impressão de que o Cerro Otto deve lotar com essas turmas. Esse grupo estava fazendo coreografias guiadas ao som de Rick Martin em uma espécie de danceteria que tem no local, e eram apenas 11h da manhã. Aff!!!
Coreografia ao som de Rick Martin. Uno, dos, tres... |
E vamos a la nieve!
Reconhecimento feito, estava mais do que na hora de encarar a neve. Acordamos animados, vestimos nossas roupas impermeáveis e lá fomos nós rumo ao Cerro Catedral. A estação, que tem uma das maiores superficies esquiáveis da América Latina, fica há 20 km do centro. Mais uma vez, o carro foi mais que bem vindo. Um conselho - leve apenas o que vai precisar. Ouvimos várias histórias de turistas que tiveram carros arrombados e objetos e mochilas furtados.
Dica: existem duas opções de estacionamento - o gratuito, mais longe e mais inseguro, e o pago, que fica dentro da vila, e portanto é bem mais cômodo. A diária é de 60 pesos ou aproximadamente R$ 15,00.
A estradinha que leva até a vila do Cerro é linda, especialmente se tiver nevado na noite anterior. Fica tudo branquinho, com as montanhas ao fundo. Um deslumbre para a alma. Nos apaixonamos por esse cantinho na beira da estrada, onde tiramos fotos muito legais, dignas de cartão de Natal.
Tudo branco... |
Crianças felizes! |
Haja energia para encarar a dura tarefa de andar no gelo escorregadio com essas botas e carregando dois esquis, dois bastões, capacete e luva...
Um passinho para lá, um passinho para cá... |
Uma forcinha vai bem... |
Mas logo já estavam curtindo o novo esporte...
Comemorando as primeiras conquistas na neve! |
Até parece que ele já nasceu em cima da prancha! |
Aprendizado por observação |
Pausa para respirar |
Vista do alto do teleférico Lynch |
Lá de cima a vista é linda! Dá para ver até o lago lá embaixo...
E a galera subiu para conferir o visual...
Será que a água do rio está muito fria??? |
Pausa para uma comidinha quente |
Pezinhos andarilhos devidamente preparados para a neve |
Pegamos carona do boneco de neve "anônimo".... |
As lojinhas de chocolate também têm filiais no Cerro. A da Mamuschka tinha um carrinho de fondue de chocolate com morango e banana feito na hora. Quem resiste???
Precisa comentar??? |
Falando em comida...
Frio pede uma comidinha fumegante acompanhada por uma boa taça de vinho. E opções não faltam em Bariloche. O lugar tem uma seleção de restaurantes excelentes, então, fechamos a boca duas semanas antes da viagem e encaramos o tour gastronômico sem medo de ser feliz. Fizemos uma pesquisa no TripAdvisor para ajudar na escolha e temos que admitir que a ferramenta é muito útil. Fomos aos principais restaurantes, cafés e cervejarias classificados entre os 20 primeiros colocados do ranking e ficamos bastante satisfeitos com o que encontramos. Aqui vai minha impressão dos locais que mais gostamos, que também compartilhei no TripAdvisor para retribuir a colaboração dos internautas.
Vamos começar pelo top. A cidade oferece alguns restaurantes que trabalham com menu degustação, ou como eles dizem, menu de 7 passos. Fomos aos dois principais - o Cassis e o Butterfly. A operação é bem parecida, mas a proposta gastronômica é diferente...
Cassis
Para nós, o Cassis foi disparado o melhor jantar da viagem. Distante do centro, tem que ter um mapinha para achar, mas é uma surpresa para guardar na memória. O lugar é lindo, fica na beira do lago, mas a noite não pudemos desfrutar da vista. O ambiente é sofisticado e aconchegante, somente 6 mesas atendidas por Ernesto, o dono.
Inspirados por muitas taças de vinho, Zeca e Marcello pediram para tirar foto com Ernesto e começaram a cantar: "O Ernesto nos convidou, eu sei ele mora no Brás...". O hermano não entendeu nada... rssss
O Cassis trabalha com menu degustação de 7 passos que vão das entradas à sobremesa, e cada etapa é um deleite para os olhos e para o paladar. Os pratos são tão absolutamente lindos e deliciosos que vale a pena compartilhar para etapa...
Primeiro passo: consommé de beterraba |
Segundo passo: foie de ave brullé |
Terceiro passo: saladinha servida em cestinha de queijo e decorada com flores comestíveis |
Quarto passo: truta salmonada com molho de champagne e cuscous de amendoas |
Quinto passo: lagostins sobre arroz selvagem |
Sexto passo: strudel de cordeiro |
Sétimo passo: sorvete de limão com coulis de framboesa |
Difícil eleger o melhor prato, mas confesso uma certa preferência pelo lagostin. A sequencia é perfeita. O preço é relativamente alto para a região, mas para esse tipo de proposta, é abaixo do praticado em muitos destinos gastronômicos. Pagamos o equivalente a R$ 220,00 por casal, com vinho. Só trabalham com reservas.
Butterfly
Escolhemos esse restaurante por ser o primeiro da lista do TripAdvisor. Para nós, ele perde essa posição para o Cassis fácil. Mas a proposta do restaurante é muito interessante.
Entrada escondida em uma estradinha na beira do lago |
Olha que interessante esse ovo cozido na técnica "sus vide" (45 minutos cozinhando a 40 graus) |
Ficou muito bom isso... |
Essa sobremesa estava divina... e linda! |
La Salamandra Pulperia
O Salamandra é uma das boas opções de Bariloche para quem quer comer bem, em um ambiente aconchegante, fugindo das propostas turísticas. O lugar é pequeno, parece uma taverna, todo em madeira.
A dona, a brasileira Renata, é uma figura! Atende pessoalmente as mesas esbanjando simpatia. O cardápio é reduzido, mas tudo é delicioso e feito para compartir. Comemos uns cogumelos na chapa divinos e o ojo de bife com salada verde é famoso como uma das melhores carnes da região. Eles oferecem o vinho da casa em jarra, mas optamos por um Perdizes Malbec que estava perfeito - tomamos 2 garrafas e meia!!! Os preços são super acessíveis. Tem que fazer reserva com antecedência. Tentamos ir uma segunda vez, mas não conseguimos mais reservar.
Cogumelos na chapa servidos sobre pão. Delícia!!!! |
Liginha jogou a toalha com tanto vinho... |
Provoleta na frigideira. Divino! |
Alto el Fuego
Para comer uma boa carne, esse é o lugar! O restaurante é bem escondido, como diz o nome, fica no alto de uma colina, no centro de Bariloche. Mas ao chegar, a casinha simpática já conquista de chegada. Poucas mesas, ambiente acolhedor, porém um pouco aquecido demais para nosso gosto, apesar do frio lá fora. Os atendentes são jovens e descolados e foram muito atenciosos.
Bucólica essa foto de Liginha vendo a "vista" |
A especialidade da casa é a carne e o carro chefe é o Ojo de Bife (que estava melhor do que o tradicional Bife de Chorizo). As porções são muito bem servidas, dá para compartilhar perfeitamente um prato e um acompanhamento para um casal.
Colônia Suiza
Um programa bem legal na região é dar uma esticadinha no Circuito Chico e conhecer a Colônia Suiza. É uma vilinha que foi colonizada - como o nome diz - pelos suiços, e por isso a arquitetura das casas é bem típica do país europeu.
Às quartas e domingos, tem feirinha de artesanato.
Algumas das especialidades locais são o fondue e a truta, uma boa pedida para um dia chuvoso e bem frio, como o que enfrentamos no passeio. O restaurante que não lembro o nome, mas é o principal do lugar, é super aconchegante e a comida muito boa.
Fondue de queijo para começar |
Truta com amêndoas |
Não vai queimar a língua!!! |
Ficamos impressionados com a lareira. Olha só que linda!
Estava beeeem frio...
Simpática a lojinha do restaurante, com muito presentinhos legais.
Cerveja também se toma no frio!!!
Além dos famosos vinhos, a Argentina também produz boas cervejas, especialmente na Patagônia. Fomos a duas boas Cervecerias, como dizem os hermanos. Na Antares, que fica no centro, a proposta é mais descolada, e o local fica cheio a noite. Já conhecíamos a filial de Buenos Aires, que gostamos muito. A de Bariloche é legal, mas não gostamos muito dos petiscos. Muita fritura, tudo meio gorduroso.
Ambiente da Antares, no centro de Bariloche |
Torcendo pelo Brasil em terras patagônicas |
Tonéis de cerveja artesanal |
A cervejaria é excelente e com certeza deve lotar à noite. O lugar é lindo, uma casinha de madeira toda decorada com bilhetinhos nas paredes.
Ganhei esse bilhetinho lindo do meu maridinho |
As cervejas são deliciosas. Zeca gostou da Staut, que segundo ele parecia a irlandesa Guiness. Pedimos uma tábua de frios e petiscos para compartir e quase não coube tudo na mesa.
Ah! Fizemos amizade com 2 simpáticos cachorros que brincavam no estacionamento e fizeram questão de invadir várias das nossas fotos!
Onde está meu companheiro?? Deve estar invadindo a foto de outra pessoa... rsss |
Tudo que é bom dura pouco...
Nossa semana em Bariloche foi uma delícia. Boas risadas, passeios lindos, namoricos no frio, comida boa, vinho melhor ainda e muita diversão na neve. Liginha e Marcello foram companhias maravilhosas. Topam tudo, sempre de bom astral, apesar da saudade da pequena Larinha. Foi a primeira vez que nossos amigos se separaram da filhota por tantos dias, mas graças à tecnologia diariamente os três passavam um bom tempo batendo altos papos pelo ipad...
Fiquei feliz porque estava um pouco receosa que Zeca, Liginha e Marcello não curtissem muito o esqui, que eu amo. Afinal, como em qualquer esporte, o início é bem chatinho. Tem que ter paciência, mas uma vez que se pega o jeito, vira vício. Tanto que na viagem de volta o assunto recorrente foi "que estação de esqui que conheceremos no ano que vem??". É, parece que logo, logo nossos casacos sairão do maleiro de novo...
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