Hallsttat

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Bem vindo! Welcome! Bien Venido! Ça va bien!

Mapa na mão, mochila nas costas, máquinas a postos! Viajar é um dos bons prazeres da vida. Descobrir lugares, gente, culturas. Pode ser um feriado no Capão, um final de semana em PF ou aquelas férias tão sonhadas para a Europa. O que vale é deixar para trás a rotina e por alguns dias mergulhar em experiências que guardaremos para sempre.

Eu simplesmente AMO VIAJAR! Meus amigos pegam no meu pé porque sou daquelas que planejo cada detalhe, que pesquiso, estudo roteiros, e começo a viajar muito antes da data de partida. E como não podia deixar de ser, registro todos os momentos para lembrar e relembrar com os companheiros de estrada e também para compartilhar com aqueles que não estavam lá.

E foi por isso que eu resolvi criar esse blog. Para reviver bons momentos, deixar o pensamento viajar cada vez que passar por aqui e quem sabe me inspirar para as próximas aventuras.

Bon voyage!

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Peru: explorando o país dos Incas

Quando comecei a planejar nossa viagem ao Peru, motivada pelo antigo sonho de conhecer Machu Picchu, tive dificuldade de encontrar um bom guia sobre o país. Segundo o vendedor da livraria, não existem muitas publicações sobre esse destino, porque o Peru não tem muitos atrativos turísticos. Acabei encontrando uma edição do Lonely Planet e ao folhear suas páginas fui constatando aliviada o quanto ele estava equivocado. Cada capítulo revelava lugares incríveis. Eram tantas opções que foi difícil montar o roteiro. Como tínhamos somente 8 dias, optamos por Lima, Cusco, Vale Sagrado e Machu Picchu, é claro. Fiquei bem tentada a incluir o Lago Titicaca, mas com o tempo que tínhamos ficaria bem corrido. No final, acho que tomamos a decisão certa: foi uma iniciação perfeita para nos apaixonarmos por esse país encantador, mas ainda pouco explorado pelos viajantes mais tradicionais. Embarque em nossa aventura e prepare-se: o Peru pode se tornar seu próximo destino.


De São Paulo a Lima, com uma paradinha em Santiago


Na verdade, nossa viagem começou por Santiago. Como o voo fazia uma conexão na capital do Chile, depois de sobrevoar os lindos picos nevados das Cordilheiras dos Andes, resolvemos aproveitar a tarde para comer os deliciosos mariscos do Pacífico encontrados no Mercado Central e dar uma voltinha pela cidade que Zeca não conhecia.


Pegamos o autobus no aeroporto e lá fomos nós iniciar oficialmente nossas férias comendo ostiones, machas e picos roccos. O lugar escolhido foi o Donde Augusto, tudo regado ao bom vinho chileno Marquês da Casa Concha.



Na empolgação do primeiro dia de viagem, resolvemos enfiar o pé na jaca e pedir uma centolla, o famoso caranguejo gigante do Pacífico. Nem queiram saber quanto deu a conta... ui, era só o primeiro dia... Muitas big pernas de caranguejo depois, aproveitamos o tempinho que faltava para passear um pouco pelos arredores e curtir o fim de tarde em Santiago, antes de seguir viagem. Próxima parada: Lima.



Confira mais fotos de Santiago:



Lima: a nova coqueluche da gastronomia mundial. Bon provecho!

Ficamos hospedados no NM Lima Hotel, no elegante bairro de San Isidro, que junto com Miraflores disputa a preferência dos visitantes. Reservamos todos os hotéis da nossa viagem pelo Booking (www.booking.com), um excelente site de reservas com ótimas diárias e mil facilidades para escolher sua hospedagem: fotos dos quartos, mapa de localização e o mais importante - dicas de outros viajantes com os pontos positivos e negativos de cada hotel. O NM em Lima é um hotel executivo, sem aquele grande fluxo de turistas. É super bem localizado, moderno, com quartos confortáveis e serviço impecável. Adoramos.
Devidamente instalados, partimos para explorar a capital peruana, cada dia mais famosa por sua gastronomia rica e inovativa, a base de muitos ceviches, langostins, maíz (o milho peruano) e outros ingredientes de origem andina, tudo acompanhado por muito pisco sour, é claro!!!
Para abrir o apetite, começamos nosso tour pelo sítio arqueológico de Huaca Pucllana, que significa algo como "Templo de jogos". No idioma quechua, "huacas" são templos sagrados onde divindades são cultuadas. Localizada em pleno coração de Lima, as ruínas da Huaca Pucllana datam de 400 D.C., ou seja, pelo menos 1.000 anos mais antigas que Machu Picchu.



Um pouco de história...

O sítio arqueológico de Huaca Pucllana lembra as construções do Egito antigo. As edificações são feitas de "adobes", tijolos de barro empilhados milimetricamente, em uma engenharia perfeita. As paredes tem forma de "livreiros" para dar equilibrio e previnir contra possíveis abalos sísmicos. A pirâmide principal tem 7 níveis. Os estudiosos acreditam que esses níveis foram construídos suscessivamente ao longo de décadas. A cada novo nível, o inferior era soterrado para reforçar a base da pirâmide. A Huaca tinha duas funções: administrativa, na parte mais baixa e religiosa, com altares para a realização de rituais, localizados no topo da pirâmide.

Um detalhe macabro: durante as escavações, corpos de mulheres jovens foram encontrados em túmulos soterrados. Acredita-se que as mesmas eram sacrificadas nos rituais dirigidos a Pachamama - a mãe terra.


Depois da visita a Huaca Pucllana, continuamos nosso passeio de reconhecimento à cidade. Seguimos pela Avenida Arequipa, surpreendente, limpa e arborizada. Nessa avenida pode-se encontrar bons mercados de artesanato, como o Inka Market, com várias lojinhas interessantes de tecidos, pinturas, pratas e mil opções de presentes e lembranças.

Paramos em um simpático restaurante chamado "Tiendecita Blanca" para tomar uma cerveja Cusqueña (a cerveja mais famosa do Peru), comer o primeiro ceviche em terras peruanas e conhecer o "camote", tubérculo que costuma ser servido com os ceviches, ao lado dos "maíz" (milho). O camote lembra uma mistura de batata com abóbora, doce, cremoso, uma delícia, que conquistou o paladar de Zeca!


Continuamos nossa caminhada até a orla, região chamada de "Circuito de las Playas". Ficamos boquiabertos com o visual: 200 metros abaixo, em uma grande falésia, o Pacífico chega até a cidade com fortes ondas, para alegria dos surfistas. No céu, dezenas de paragliders coloridos completam a paisagem. A orla de Lima é cheia de pequenos parques floridos. É possível descer até a praia por grandes escadarias. A praia é bem diferente: no lugar da areia, grandes seixos vulcânicos. O barulho das ondas arrastando as pedras no fundo do mar é instigante.


Depois de horas de caminhada, hora de parar para recarregar as energias. Lugar escolhido: o charmoso "La Rosa Náutica". O restaurante fica em um pier de madeira que avança sobre o mar. O lugar é lindo e a comida, esplêndida. Almoçamos em uma mesinha ao lado das grandes janelas de vidro que dão para o mar.



Detalhe curioso: olhando pela janela, a impressão que se tem é que a qualquer momento pode vir um Tsunami das bandas do Japão. Aliás, avisos espalhados pelas ruas da região indicam rotas de fuga, mas o taxista que nos levou de volta ao hotel jurou que é bem provável que tal fato aconteça. Na verdade, terremotos são mais temidos por aqui que Tsunamis... ai, ai...


A noite de sábado foi pra lá de divertida. Primeiro, fomos ao famosos Rafael Osterling - um gastro bar bem local, frequentado pela elite limeña. Comemos um ceviche galáctico e mais algumas iguarias, acompanhados por alguns piscos... Do Rafael, fomos conhecer os cassinos peruanos - por aqui o jogo é liberado, e dezenas de casas com suas luzes piscando se espalham pela cidade. Começamos pelo Atlantic City, um dos maiores. Depois de gastar alguns dólares em uma maquininha ridícula, desistimos da carreira de jogadores e resolvemos mudar de diversão. Na outra esquina encontramos o "Fiesta", bem mais animado. Tinha uma banda tocando música latina e o simpático barman nos preparou mais alguns piscos para celebrar a primeira noitada da viagem.



A Plaza de Armas e o centro histórico de Lima

No domingo, fomos conhecer a Central Lima, o centro histórico dessa cidade surpreendente. Na Catedral, acontecia uma missa acompanhada por canto gregoriano. Na Plaza de Armas (toda cidade peruana tem uma Plaza de Armas, herança dos espanhóis), fica o Palácio do Governo. Como era domingo, pudemos assistir a troca da guarda, com direito a banda e tudo.


Passeando pela região, acabamos descobrindo um boulevard gastronômico incrível, cheio de restaurantes charmosos com mesinhas na calçada. Um dos mais concorridos é o T'ANTA, a sanduicheria do famoso chef Gastón (do Astrid & Gastón), onde comemos uma autêntica empanada limeña.


Também imperdível é a "Casa de Gastronomia Peruana", um museu dedicado à história da gastronomia do país. Super interessante, e ainda por cima, gratuito.


Do centro, pegamos um táxi até o bairro de Barranco. O lugar tem casarões coloniais que abrigam bares e restaurantes, mas a maioria estava fechada no domingo a tarde, para nossa decepção. Descemos então a comprida "escalera" até a praia e pegamos outro táxi para o Shopping Larcomar. Esse é um dos principais pontos de entretenimento de Lima: lojas, restaurantes, bares, boliche, em um charmoso centro comercial com uma vista espetacular para o mar. Almoçamos no restaurante "Porto Fino", apreciando o visual e degustando ceviches e cordeiros. Para finalizar nosso dia, café e licor na "barra" do Zamzibar, o simpático barzinho do restô.




Uma dica sobre a cidade: os táxis de Lima não possuem taximetro. A corrida é negociada no momento em que você entra no táxi, e vai depender da distância, do horário e do humor do motorista. A frota de veículos da capital peruana é velha, com carros caindo aos pedaços, então não espere um transporte muito confortável, sem falar no trânsito muito louco da cidade!

Confira mais fotos de Lima:



Cusco: a cidade dos Incas

Na 2a feira de manhã cedinho, pegamos o voo para Cusco. Estávamos super curiosos em conhecer essa cidade histórica, no meio das montanhas. Cusco fica a 3.400 metros de altitude em plena Cordilheira. O sobrevoo dos Andes é simplesmente espetacular. As montanhas com picos nevados parecem tocar as nuvens. Os grandes canyons são serpenteados por rios e salpicados de pequenos lagos.


O pouso em Cusco é uma experiência única: a cidade se revela de repente em um vale e para alcançar a improvável pista, o piloto contorna os picos com habilidade de condor.


Nosso hotel em Cusco, o Costa del Sol Ramada, é um charme. Um pequeno hotel boutique, lindo, com arquitetura colonial. O quarto tinha uma "bay window" com vista para o átrio central - marca de muitos edifícios da cidade histórica.





Fomos recebidos com o famoso "mate de coca", remédio para o soroche, o famoso mal das alturas. Para nossa sorte, não sentimos muitos efeitos, apenas uma pequena falta de ar quando subíamos escadas. Deixamos as malas no quarto e fomos fazer o reconhecimento da cidade. Primeira parada: Plaza de Armas.



Cusco é um lugar indescritível. Parece que estamos em um filme. A história pulsa das ladeiras, dos becos de pedra, dos casarões. Caminhamos até o Hotel Monastério, um 5 estrelas incrível, onde tomamos uma taça de vinho "Amaral" e um tiradito de corvina defumada (tiradito é uma espécie de ceviche em forma de carpaccio). O dia estava lindo, muito sol, mas logo mais a tarde cairia uma chuva de granizo derrubando a temperatura de 20o para 5o.



Demos uma rápida passada no Museu Inka e seguimos para o Qorikancha, que em Quechua (o idioma inca), significa "Templo do Sol". Na verdade, era um antigo monastério, um dos mais importantes templos do Império Inca, dedicado ao "Inti", o Deus Sol. É uma das edificações mais fantásticas da cidade, uma visita imperdível.




De lá, pegamos um táxi para subir a ladeira até o bairro de San Blas, que concentra grande quantidade de lojas de artesanato e ateliês. Ladeira abaixo é mais fácil e você vai curtindo o visual incrível das estreitas ruas de pedras. 



Para repor as energias, paramos no Paddy's Pub, um autêntico pub irlandês, excelente pedida para um happy hour, regado a boa cerveja. Peça uns pasteizinhos com massa "Watan" para acompanhar. Deliciosos!


A noite, Cusco parece ainda mais mágica. Centenas de luzinhas no morro fazem a cidade parecer um presépio. Ainda fomos premiados com uma lua cheia de tirar o fôlego.



O lugar escolhido para nosso jantar foi o recomendado Cicciolina, do Chef Luis Alberto Saciloto. Foi a melhor comida da viagem, sem dúvida. Recomendo o tagliarini com langostinhos. Dos Deuses!


Confira mais fotos de Cusco:


Vale mais que Sagrado

No dia seguinte, fomos conhecer o Vale Sagrado dos Incas. Compreendido entre  entre os povoados de Písac e Ollantaytambo, o Vale Sagrado é composto por numerosos rios que descem por pequenos vales e abriga importantes sítios arqueológicos e numerosos povoados indígenas. Essa região foi muito apreciada pelos Incas por conta de suas qualidades geográficas e climáticas, constituindo um dos principais pontos de produção pela riqueza de suas terras.

O Rio Urubamba é o principal que banha a região e nos acompanhou por todo o passeio. Para conhecer o Vale Sagrado, contratamos os serviços da "Adventure Club" no Brasil, e nos juntamos a um grupo conduzido pela agência local "Condor". Saímos de Cusco às 8:30 da manhã. O ônibus percorre uma estrada linda, que serpenteia pelas montanhas dos Andes, passando por vários vilarejos. Da estrada se avistam alguns picos nevados, numa paisagem espetacular.


Primeira parada: Awana Kancha. Nessa pequena localidade desenvolve-se um projeto sociocultural de resgate da antiga tradição de tecelagem das incas. Pudemos conhecer os diversos tipos de animais que fornecem sua lã para os tecidos: alpacas, lhamas e vicunhas. Os visitantes recebem ramos de folhas para alimentar os simpáticos "anfitriões" que posam de boa vontade para as fotos, em troca de um bom matinho.


Além da divertida tarefa de alimentar essa galera, em Awana Kancha é possível conhecer o passo a passo do processo de tecelagem manual, explicado pelas próprias artesãs - desde o tingimento da linha até o trançado feito somente com as mãos,com o auxílio de grandes agulhas de madeira. É incrível, porque os desenhos e tramas são feitos de cor - não há moldes nem referências. Cada povo inca é representado por determinadas cores e padrões (vi essa mesma tradição na Guatemala).


Os visitantes podem comprar o artesanato local em uma lojinha que oferece tecidos e outras lembranças. Os tecidos são de qualidade, a maioria feita a mão e com lã pura de baby alpaca (o primeiro corte da lã da alpaca), por isso são mais caros que os encontrados nas lojas e mercados populares como o de Písac, nossa próxima parada.

Em Písac, está o principal mercado popular de artesanato do Peru, que funciona aos domingos (é o dia que tem mais barracas), terças e quintas. Infelizmente, tivemos pouco tempo, aliás um dos problemas dos tours oferecidos por agências de viagem, que te dão hora para tudo. Recomendamos uma paradinha para comer uma autêntica empanada peruana, assada em um forno a lenha datado de 1820 (fica em uma ruazinha lateral ao mercado). Na mesma rua, tem uma loja que fabrica joias em prata e pedras preciosas. Vale uma passada, tem coisas lindas, mas não é muito baratas. Mas é em matéria de joia, é bem mais seguro que os anéis e pingentes oferecidos nas barraquinhas do mercado de rua.


Depois de Písac, fomos almoçar no restaurante de um hotel lodge da região. Um lugar paradisíaco, com um lindo jardim florido, uma capela, um charme. O almoço é um buffet de comidas peruanas, servido em um varandão, acompanhado por músicos tocando flauta andina. Só a comida que achamos mais ou menos. Mas valeu pelo ambiente.



Devidamente alimentados, seguimos viagem para conhecer o sítio arqueológico de Ollantaytambo. Vale contar a história do local:

Em um vale cercado por 3 montanhas, Manco Inca (o último rei do Império Inca a ser derrotado pelos espanhóis) e seu povo construíram uma cidade de pedras, cujo projeto se baseou nas indicações de um complexo sistema que combinava um calendário solar para determinar as estações e, consequentemente das colheitas, com correntes de vento que correm por entre as fendas das montanhas. Para construir o templo sagrado, foram utilizadas pedras gigantes que chegavam a pesar 80 toneladas. Essas pedras eram extraídas de pedreiras de uma montanha do outro lado do rio, e transportadas por grupos de 12 a 15 homens e mulheres. Eles atravessavam o rio carregando os grandes blocos e com a força humana tracionavam-os ladeira acima até o topo das plataformas construídas por níveis. Infelizmente, Manco Inca e seus homens não chegaram a concluir sua cidade, pois foram invadidos pelos espanhóis comandados por Hernandez Pizarro (irmão de Francisco Pizarro, que invadiu Machu Picchu). Na primeira batalha, os espanhóis foram derrotados a flechadas e também pela dificuldade de acesso, somados com uma estratégia intrigante de Manco Inca, que abriu a barragem, deixando a força da água arrastar os inimigos montanha abaixo. Algum tempo depois, numa nova tentativa, Hernandez retornou com reforço, derrotando os Incas, que fugiram em direção à floresta. Manco Inca, porém, só seria capturado 40 anos mais tarde, em plena selva amazônica, encerrando assim a dinastia inca do Peru. De qualquer forma, Ollantaytamba é considerada a última cidade inca vivente, pois sua população conserva o modo de vida dos antigos antepassados - um lugar mágico repleto de histórias e lendas, onde o tempo parece ter parado.





De volta a Cusco, fomos jantar no Inka Grill, restaurante indicado por nossa nova amiga Regina, uma paulista super simpática que conhecemos no tour do Vale Sagrado. O Inka Grill fica na Plaza de Armas, mas a comida deixou um pouco a desejar. É meio turístico, os pratos estavam sem sabor. Se a proposta for comer o melhor da deliciosa comida peruana, Cusco oferece excelentes opções. O Cicciolina, definitivamente, foi o nosso eleito.

Confira mais fotos do Vale Sagrado:





Os trilhos que levam a Machu Picchu

No dia seguinte, acordamos cedo, mas animados. Afinal, havia chegado o tão esperado dia de pegar o trem em direção a Machu Picchu. Do hotel até a estação de Poroy, de onde partem os trens da Peru Rail, são cerca de 20 minutos. Poroy é um vilarejo no subúrbio de Cusco, mas a estação é uma graça, limpa, moderna e organizada. Por garantia, compramos os tickets do trem ainda no Brasil, mas vi algumas pessoas comprando bilhetes na hora, pouco antes do embarque.


No foyer da estação, tem uma lanchonete onde você pode comprar snacks para a viagem que dura 3h30 até Machu Picchu Pueblo, mas conhecido como Águas Calientes. Na verdade, são apenas 97 km, mas a viagem é lenta. O trem vai devagar, serpenteando pelos trios sinuosos por entre as montanhas. Não se assuste: o trajeto não é nada entediante, e você mal vê o tempo passar. O nosso trem, Vistadome, vai fazendo um tour pelo Vale Sagrado dos Andes, enquanto você se deleita com o visual. Os vagões são confortáveis, com grandes janelas e o mais incrível: o teto também é de vidro para que possamos admirar as montanhas que cercam os trilhos dos dois lados do trem, num visual espetacular. No meio da viagem, é servido um lanche, que achamos muito legal. Um pequeno almoço, com porções de comidinhas típicas do Peru. Durante todo o percurso, o sistema de som do trem toca música andina, entremeada com uma narrativa sobre os locais por onde vamos passando. Uma viagem inesquecível!



Detalhe importante: só é permitido embarcar para Machu Picchu carregando uma bagagem de até 5kg, o equivalente a uma mochila com uma muda de roupa e itens de higiene. As malas ficam em Cusco, mas não se preocupe: todos os hotéis tem local para guardar sua bagagem com segurança, e acaba sendo uma benção, porque em Águas Calientes você terá que andar até o hotel.

Águas Calientes

Chegamos a Águas Calientes às 12:20. O vilarejo fica dentro das montanhas, tem umas 4 ou 5 ruas, um rio que passa no meio meio e o trilho de trem que também corta a cidade. A cidadezinha vive 100% do turismo. Saindo da estação de trem você sai dentro do mercado de artesanato, e nas ruelas, só vai encontrar lojas, pousadas e restaurantes, além de muitas lojinhas de snacks, onde os visitantes que se dirigem a Machu Picchu (todos) se abastecem antes de subir para o santuário. Muita gente opta por fazer a visita em um dia, ou seja, vem de Cusco no primeiro trem, conhece Machu Picchu e volta no final da tarde. Dá para fazer, mas aconselhamos o pernoite. É menos cansativo e você curte um pouquinho o vilarejo, que não deixa de ter seu charme.




Esqueça táxi. O lugar é muito pequeno e se faz tudo a pé. Nos lembrou um pouco Morro de São Paulo, na Bahia, que tem meia dúzia de ruas que abrigam lugarzinhos charmosos misturados a muitos
estabelecimentos improvisados, ou no bom bainês, "armengados". Nosso hotel, o Santuário (não confundir com o caríssimo Sanctuary Lodge, que fica na entrada de Machu Picchu), deixou um pouco a desejar, mas nos pareceu melhor que muito lugar suspeito que passamos na porta. O quarto era bem simples e cheirava um pouco a mofo. Pelo que pagamos pela diária, achamos que o custo benefício não compensa muito, mas hotel a realidade é que Águas Calientes não tem boas opções e é caro
mesmo.


Como nossa entrada para Machu Picchu era somente para o dia seguinte, resolvemos seguir a indicação da agência e almoçar no famoso Sanctuary Lodge, um hotel de luxo cuja diaria custa US 1,500.00, mas o almoço custa somente US 35. Logo descobriríamos porque... É preciso pegar o ônibus que leva montanha acima. O ponto era próximo do nosso hotel, mas nos assustamos com o valor da passagem: são S/ 45 por pessoa, ou aproximadamente US 15 ida e volta, para uma viagem de apenas 20 minutos, em um micro ônibus cheirando a poeira. A subida, no entanto, é de tirar o fôlego: a medida que o ônibus serpenteia pela estrada estreita montanha acima, vai se desvendando uma vista espetacular do vilarejo e do rio, no vale lá embaixo. Ao chegar no restaurante, uma decepção: tínhamos imaginado um lugar charmoso, com vista para as ruínas, mas no lugar, encontramos um "bandejão" entupido de turistas, com vista para lugar nenhum. Bem melhor seria ter permanecido lá embaixo passeando pela ruelas de Águas Calientes e escolher um dos simpáticos restaurantes do lugar. Mas como tudo tem um lado bom, no restaurante encontramos por acaso com nossa amiga Regina, que tinha chegado em um trem mais cedo. Almoçamos juntos e combinamos de jantar mais tarde no vilarejo.

Nos encontramos a noite no restaurante Índio Feliz, uma indicação do Lonely Planet, de tirar o chapéu. O nome é engraçado, mas acredite: foi um dos melhores restaurantes da viagem. O lugar é lindo, tem vários ambientes com uma decoração bem colorida, no estilo "indy". A comida estava estupenda! E o melhor: por apenas S/54 (US 18), você tem direito ao menu completo, com entrada, prato principal e sobremesa. Tomei uma sopa de cebola deliciosa, depois comemos truta e torta de maçã para finalizar. Foi uma noite divertida.




Para nossa big surpresa, ao sair do restaurante estava chovendo!!! Depois de tantos dias de sol, logo na véspera de visitar Machu Picchu, chuva??? Ninguém merece... Tivemos que providenciar capas de chuva para nos abrigarmos na caminhada até o hotel e, confesso: ficamos tensos pensando no dia seguinte... Tínhamos marcado com o guia às 6h da matina, sonhando em ver o sol nascer na cidade sagrada dos Incas. Será que Pachamama iria nos receber debaixo d'água?

Uma aventura digna de Indiana Jones chamada Wayna Picchu

Acordamos às 5h. Choveu a noite inteira e parecia que a garoa fina e fria iria nos acompanhar na subida, mas tudo bem. Com chuva ou sem chuva, Machu Picchu nos esperava majestosa. Nosso guia, Horácio, nos aguardava no lobby do hotel. Vestimos nossas capas, sem imaginar o tamanho da aventura que nos esperava. Em meio a muitas nuvens, o ônibus cheio de turistas ansiosos como nós seguiu montanha acima.

Nosso tour começaria com a visita a Wayna Picchu, que em Quechua significa "montanha jovem". Até então, a única coisa que sabíamos sobre Wayna Picchu é que o acesso é reservado a parte e que somente 400 pessoas por dia podem visitar o local, em dois grupos de 200 - uma às 7h da manhã (nosso caso) e outro às 10h. Do topo dessa montanha, se tem uma vista privilegiada de Machu Picchu, a "montanha velha", mas poucos turistas se aventuram a chegar lá. Logo saberíamos porque...

Entramos na cidade sagrada em meio às brumas. A chuva fina persistia e as montanhas estavam literalmente no meio das nuvens. Parecia que estávamos no cenário do filme "O Senhor dos Anéis". A essa altura, era óbvio que ver o sol nascer em Machu Picchu não ia rolar. E o mais surpreendente é que junho é a estação seca da região. Dificilmente chove nessa época.


Seguimos Horário até o portal de entrada de Wayna Picchu, mas melhor seria dizer que estávamos atravessando o portal de um filme de Indiana Jones. Nosso guia apontou o topo da montanha comunicando com a maior naturalidade que subiríamos 450 metros por uma escadaria de pedra até o cume. E lá fomos nós...




A escadaria é toda feita de estreitos degraus, a maior parte muito íngreme. Em alguns pontos, cabos de aço ou cordas servem de apoio para dar mais firmeza na subida. Como chovia, estava tudo super escorregadio.



Cada vez que subíamos mais, mais entrávamos nas nuvens. A essa altura, estávamos a quase 3 mil metros de altura.


Uma hora de descalada depois, chegamos ao cume, com pernas tremendo, joelhos reclamando, pulmões arfandando e completamente enxarcados.


Mas no alto, Pachamama nos reservava uma surpresa: do alto das montanhas, no meio das nuvens, um altar sagrado apontava em direção a Machu Picchu. Segundo a lenda, todos os pedidos feitos nesse local mágico são atendidos pelas divindades incas. Esquecemos o cansaço e nos rendemos ao poder da natureza e à sabedoria Inca.


Após esse momento de grande emoção, iniciamos nossa descida que duraria mais 40 minutos, com a certeza de que algo nos trouxe até aqui.


Depois de uma pausa para descansar e tomar uma cerveja no café da entrada para repor as energias, voltamos a Machu Picchu para explorar o local. A essa altura, a chuva tinha resolvido dar uma trégua, e um sol tímido ameaçava dar o ar da graça. Coisas de Pachamama!!!


Machu Picchu: a cidade perdida dos Incas

Nada que você tenha lido ou ouvido falar sobre Machu Picchu podem traduzir o momento que você sai da pequena trilha e diante de você se descortina aquele cenário surreal. Uma coisa que nunca havia me dado conta pelas fotos que vi é que as ruínas de Machu Picchu ficam no centro das montanhas, cercadas por todos os lados por aqueles picos grandiosos. No lado esquerdo, no fundo do vale, o Rio Urubamba resplandece majestoso.



Quando chegamos muito cedo de manhãzinha, a cidade estava dentro das brumas, com uma luz turva, mágica. Agora, com a manhã avançando, a chuva se foi e o sol, agora mais forte, nos brindava com uma luminosidade incrível, deixando tudo mais verde e límpido.


Horácio nos contou que quando Bill Gates esteve por aqui fez a declaração mais sábia que ele já ouviu sobre esse lugar: "Machu Picchu é a combinação improvável de matemática e magia". O projeto de engenharia dessa cidade combina um complexo sistema de aproveitamento dos recursos naturais, desde a posição do sol nos diferentes momentos do dia a cada estação, até a água que desce dos picos nevados e é drenada por calhas e dutos cuidadosamente planejados, com a veneração e respeito que esse povo sábio tinha por seus deuses que os espreitavam por trás daquelas montanhas.



Impossível se sentar para observar aquelas ruínas e não imaginar aqueles serem diminutos subindo e descendo os inúmeros degraus, entrando em suas casas de pedra muito pequenas e adorando Pachamama, a mãe terra, e outras divindades, em altares que se voltam para os  montes sagrados.



Nosso guia nos deu uma aula incrível sobre o modo de vida dos Incas e compartilhou várias lendas que continuam sendo transmitidas através dos tempos. Na verdade, o povo que por aqui viveu não escreveu uma única linha sobre Machu Picchu. Tudo que se sabe vem de deduções de estudiosos e arqueólogos, cuja principal fonte de informação foi a simples observação dos vestígios e sinais deixados para trás pelos incas, que ao saber da aproximação dos espanhóis, incendiaram a cidade e fugiram para a selva Amazônica.

Machu Picchu foi construída no século XV, a 2.400 metros de altitude, por três gerações de incas. O último deles, Pachacuti, era avô de Manco Inca (aquele de Ollantaytamba), o que nos revela a profunda relação dos sítios arqueológicos que se espalham por essa região andina. Depois da invasão dos espanhóis, as ruínas permaneceram esquecidas por séculos, até ser redescoberta em 1911 pelo inglês Hiran Birghan, que tinha ouvido falar de uma cidade perdida dos incas.

A cidade se divide em dois setores principais: o agrícola (à direita da foto), com suas plataformas verdes onde eram cultivados os alimentos, e o setor urbano (à esquerda), onde estão as casas e o centro religioso.

Em cada casinha viviam famílias formadas por 4 a 5 pessoas, que dormiam em camas de madeira e comiam no chão. Vejam só o tamanho da cozinha...


Espalhados pelo local, encontramos altares de cultos e sacrifícios, que possuem vários simbolismos combinando os três animais sagrados dos incas: a serpente, que representa o mundo inferior, a lhama, que representa o mundo físico, e o condor, que representa o mundo espiritual.

Encerrada a aula de história, Horácio se despediu de nós no ponto mais alto das ruínas, de onde se pode avistar toda a cidade.

Ficamos a sós para contemplar o lugar e deixar a mente e o espírito viajarem através do tempo, guiados apenas pela mágica do lugar mais incrível que já conhecemos. Só nos restava agradecer aos deuses pela oportunidade única de poder ter estado aqui um dia.




 Nos despedimos de Machu Picchu ao cair da tarde. Na saída, avistamos algumas lhamas que passeavam distraídas e soltas entre os turistas divertidos.


Pegamos o ônibus que nos levou de volta ao povoado, a tempo de pegar o trem de volta a Cusco. A viagem de retorno, à noite, não se pode apreciar as belezas do caminho, mas estávamos tão cansados que dormimos a maior parte do tempo. Para distrair os passageiros, os funcionários da Peru Rail apresentam alguns espetáculos a bordo, como apresentações artísticas e desfiles de roupas feitas de algodão de alpaca, que logo apelidamos de "Machu Picchu Fashion Week".

Ao chegamos no hotel Costa del Sol, em Cusco, uma surpresa: ganhamos um upgrade e fomos premiados com uma suíte espetacular, com direito a jacuzzi e tudo. Pedimos pizza e vinho e nos entregamos a um merecido descanso em grande estilo, depois desse dia longo, intenso e inesquecível.


Confira mais fotos de Machu Picchu:


De volta a Lima

Logo cedo pela manhã pegamos o voo de volta para Lima, com uma conexão em Arequipa, ao sul do Peru, conhecida como cidade branca. Mas só deu tempo mesmo de tirar uma foto, da porta do avião, de um dos três vulcões com picos nevados que rodeiam a cidade, o Chachani, o El Misti e o Pitchu Pitchu.


Chegamos a Lima por volta do meio dia e aproveitamos a última tarde na cidade para conhecer o Museu Larco - um museu de arte pré-colombiana que possui um acervo incrível de achados arqueológicos que retratam 3 mil anos de história do Peru. São centenas de objetos e estátuas de cerâmica e a mais fina coleção de jóias incas em ouro, prata e pedras preciosas.


O Larco é meio afastado da região turística de Lima, mas vale a visita. O museu está instalado em um lindo casarão colonial  de paredes brancas, com jardins cheios de bougainvilles.

Não deixe de conhecer a sala de arte erótica, na parte inferior do Museu, que abriga uma coleção de estatuetas eróticas dos antigos povos peruanos. Ao lado, você encontra um simpático café-restaurante.
Também achei incrível o depósito de objetos que fica aberto ao público. Fiquei impressionada com a quantidade de estatuetas, vasos e outros itens em cerâmica guardados nesse local - quanto coisa foi encontrada pelos arqueólogos, quanta coisa ainda deve existir nos lugares que não foram escavados em todo o território peruano...


A última noite no Peru foi dedicada a uma comemoração antecipada do Dia dos Namorados. Escolhemos o restaurante Brujas de Cachiche, recomendado por Iuri. O lugar é charmoso, a comida muito bem servida, mas elegemos o barzinho onde tomamos o último drink como o ponto alto do local.



Nos despedindo das terras peruanas

Malas prontas para voltar para casa, aproveitamos a manhã livre para caminhar até o Inka Market, o mercado de artesanato que fica na Avenida Arequipa, em Miraflores, para umas últimas comprinhas.
Nos despedimos do Peru com uma sensação de satisfação incrível e planos de voltar um dia. Amamos esse país, com sua cultura tão rica, sua história milenar, sua tradição gastronômica invejável. Foi uma viagem realmente especial, onde curtimos muito cada momento. Hasta la vista, Peru!



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